VOCÊ GOSTA DE LER?

Leitura é muito mais do que decodificar palavras. É ir muito além! É voar sem destino pelas páginas de um livro.
Devemos observar várias formas de arte, expressas em textos escritos ou não (verbal ou não verbal) e, delas tirar lições, reflexões, ou mesmo divesão. O que não podemos é sairmos indiferentes, pensando: não entendi nada! Ou fingindo ter entendido tudo, sem no entanto, ter compreendido o que o emissor realmente disse.
Muitas mensagens, realmente são de entendimento dúbio, ou seja, dá margens a mais de uma interpretação.
O que não se deve, é não entender nada! Se por acaso isso acontercer, e não é nada depreciativo assumir isso, devemos buscar mais informações e, fazer com que de alguma forma, essa leitura acrescente algo de positivo em nossa vida.

Leia, vá ao cinema, museus, shows, teatros, ouça músicas, mas reflita, pense!
Se não tiver argumentos bem fundamentados, cale-se e vá aprender mais.


"NÃO TENHO UM NOVO CAMINHO. O QUE TENHO É UM NOVO JEITO DE CAMINHAR." (Thiago de Melo)


terça-feira, 9 de março de 2021

LIGAÇÃO CONTRA O MARASMO (Juliano Martinz)

 Numa dessas tardes em que penso “Algo diferente poderia acontecer hoje”, um marasmo estocando sua adaga no meu estômago repetidas vezes e, de repente, algo acontece.

O celular toca. Número desconhecido. Um olhar lânguido e uma falta de vontade atender. Hesito. Deixo pra lá. Mas insistências insistentes que insistem insistir me obrigam a atender.

– Hmfugh – Eu grunho quando não quero falar.

– Você tá aí?

– Hã?

– Cadê você? Tá aí?

– Aqui? Bem, estou.

– O que você quer?

– Como assim?

– Por que me ligou?

– Mas quem me ligou foi você.

– Eu estou retornando a ligação.

– Quem está falando?

– A Bruna.

– Eu te liguei? Eu não conheço nenhuma Bruna.

– Você não me ligou ontem?

– Não.

– Desculpa, foi engano.

E desligou. Fico olhando o celular, com aquela cara imbecil de quem se pergunta: “Isso realmente aconteceu?”, até que esqueço o que houve, e volto para mais um capítulo da sessão marasmo.

Meia hora depois, quase babando, o tédio de volta, sádico e sanguinário, e o celular toca novamente. Mesmo toque. Mesmo número. Mas, outra tensão.

– O que foi agora? – Notou? Não grunho dessa vez.

– Cadê você? Tô aqui te esperando.

– Aqui onde?

– Na Padoka.

Eu conheço a Padoka. Uma quarteirão daqui. Loooonge!

– Você quer falar com quem, menina?

– Para de zoar, cara. Vem logo.

– Mas… eu… quem…?

– Cara, vem logo, pô. Tô te esperando. A cerveja tá esquentando.

– Mas…

– Tenho uma bomba pra te contar. Aquele babado sobre o Henrique.

– Que babado? Que Henrique?

– Ai, cara chato! Vem logo, pô.

– Mas…

Click.

– Bruna! Brunaaaaa! Inferno de menina.

Na hora do “inferno de menina” meu celular foi arremessado contra a parede – essas manias imbecis de punir quem não tem nada a ver com o “babado”.

Recolho o celular, recoloco a bateria, resmungando num ensaio o que pretendo dizer para ela. Vou ligar e  esclarecer de uma vez por todas que eu não sou quem ela pensa que sou. Não conheço Bruna, muito menos Henrique, e não sou um cara chato.

Ou sou?

Acesso as últimas ligações recebidas, e ligo para Bruna. Ela atende:

–  Hmfugh.

Agora é a hora de discorrer minhas palavras. Mas, ao invés disso, estaco-me. Não digo nada. Apenas tocado, quase hipnotizado.

Ela se impacienta.

– Que foi? Vai dizer que não vem?

Do nada, me identifico com Bruna. O charme na grunhidela dela ao atender o telefone, me comove. De repente, meu marasmo se torna o nosso marasmo. Unidos pela mesma apatia. Ligados pela mesma estagnação.

Decidido, levanto-me num pulo, e arremato entre sorrisos:

– Bruninha, pode pedir outra cerveja que já tô chegando.

Nenhum comentário: