Não conseguir se lembrar
de quando acordou é algo assustador. Pior ainda é não saber como se veio parar
aqui. Quer um pouco mais de tempero TERROR na trama? Eu nem sequer sei onde é
“aqui”.
Estupefato,
confuso, olho ao redor. Recolho informações: aqui é uma rua movimentada.
Pessoas indo e vindo apressadas. Normalidades anormais. E um cheiro acre no ar.
Cheiro azedo, oras. Mãos secas. Ar úmido. Nervos e pele. Sou eu, mas… quem eu
sou, afinal?
O que você faz em uma
situação assim? A única coisa possível: pedir informações. Perguntar onde
estou, claro. Mas… pergunta estranha pra burro essa. “Onde estou?” Não pega
bem. Melhor perguntar o nome da rua. Faço isso. Uma mulher com uma criança no
colo. Ela me olha de forma estranha. Desconfia de mim. Ao que me lembre, não
transmito ameaça. Que cheiro maluco é esse?
Ela responde:
– Rua Soleneve.
Soleneve? Nunca
ouvi nada parecido. Complicado. Melhor perguntar pelo nome do bairro. Aproveito
a cidadã desconfiada e pergunto. Ela responde:
– Pinhal Roxo –
diz, enquanto me dá uma boa olhada de cima em baixo.
Repito para
mim: “Pinhal
Roxo, Pinhal Roxo…” Realmente, não conheço nenhum bairro
Pinhal Roxo em Florianópolis, e pelo que sei… Espere. E se por acaso eu não
estiver em Florianópolis? Isso explicaria o cheiro estranho no ar.
Será que fui
raptado? Sonambulismo? Múltiplas personalidades? De repente, sou invadido por
uma sensação de que essa história não é a minha.
Assustado.
Perto do desespero. Onde estou? Confiro meu reflexo na vitrine de uma loja. Sou
eu, afinal. Pelo menos isso.
Me aproximo de
um policial. Pergunto o nome da cidade. Ele leva a mão a arma, mas não a saca.
Apenas preparado. Desconfiado de mim. Me olha da cabeça aos pés. E a mão na
arma. Vai sacar, quer ver? Quer ver? Não saca. Só responde, desconfiado:
– Ouro Bom.
Ouro Bom????
Existe alguma
cidade chamada Ouro Bom em Santa Catarina? Eu nunca ouvi nada parecido… A não
ser que… Oh, não! A não ser que eu não esteja em Santa Catarina. A situação não
poderia ser pior. Ou poderia?
O policial
ainda me olha desconfiado. Mão na arma. Espera por minha reação. Resolvo
arriscar:
– Policial,
poderia me dizer em qual estado do Brasil estamos?
Ele cerra o
semblante. Segundos depois, dá um sorrisinho:
– Brasil?
Brasil??? – Começa a rir. – Cada maluco que me aparece – E sai, gargalhando.
Tudo gira ao
meu redor. Pane. Pânico. Falta-me chão. Falta-me ar.
Sonambulismo
está descartado. Múltiplas personalidades também. Eu não conseguiria sair do
país assim. Ou conseguiria? Definitivamente, acho que fui sequestrado. E como
escapei? Droga, o que faço agora? Talvez entrar em contato com o consulado.
Como vou explicar como vim parar nesse lugar se nem mesmo sei onde é esse
lugar?
Preciso
descobrir em que país estou. Devo estar próximo do aeroporto ou de um porto,
caso tenham me trazido de navio. Em qualquer um dos dois, consigo informações
que me ajudem a descobrir o que aconteceu.
Paro um menino
que me olha desconfiado.
– Ei, garoto,
me diga uma coisa: qual é o nome desse país?
– Hã?
– O nome desse
país, droga, qual é?
– Dartófolis.
– Darto o quê?
– Dartófolis.
– Mas que…?
Dartófolis??? Mas, em que porcaria de lugar da Terra fica esse Dartófolis?
Ele me olha com
uma cara engraçada.
– Terra?
Terra??? – E desaparece no meio da multidão, se acabando em gargalhadas
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