Hai-Kai é um pequeno poema de origem japonesa
composto de três versos, dois de cinco sílabas e um – o segundo- de sete. No
original não tem rima, que geralmente lhe é acrescentada nas traduções
ocidentais. A época do aparecimento do Hai-Kai é controversa, e sua
popularização deu-se no século XVII, sobre tudo através da produção de
Jinskikiro Matsuo Bashô, simbolista inspirado profundamente em impressões
naturais (sobretudo paisagísticas) e adepto do Zem.
Nos nossos dicionários, em geral
aparece com a grafia Haiku, embora não seja essa definição a usada pelos seus
leitores e estudiosos, por motivos discutíveis.
A nuvem atenua
O cansaço das pessoas
Olharem a lua.
Contudo há quem afirme que Bashô foi ultrapassado, tanto
em popularidade quanto em inspiração, pelo poeta do século posterior (XVIII)
Yataro Kobayashi (issa):
Vem cá passarinho
E vamos
brincar nós dois
Que não
temos ninho.
Apesar de sua forma frágil,
quase volátil, dependendo da imagística mais do que qualquer outra poesia, uma
implosão, não uma explicitação, o Hai-Kai é, uma forma
fundamentalmente popular e, inúmeras vezes, humorística,
no mais metafísico sentido da palavra e atualmente, deixou de ser uma forma
fixa e nem sempre obedece a métrica, dentre seus representantes modernos cito
Millôr Fernandes :
Roubaram a
carteira
Do imbecil
que olhava
A
cerejeira.
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A chuva fina
Atropela a grossa poeira,
Que besteira
Coisa maluca
Com o próprio pé
Coçar a nuca.
Uma visão espúria
Exposto na estante
Copo com dentadura.
Pato com três patas,
Vê-se bastante, uma esposa
E duas amantes.
Clóvis C. Rocha
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