Quando os cães governavam-se a si mesmos, havia dois
grandes reinos chefiados por poderosos cães. Cada um deles gabava-se de ter
mais súditos e riquezas do que o outro. Embora fossem adversários, viviam em
paz, e essa trégua só foi quebrada no dia em que um deles se apaixonou pela
irmã do outro chefe. Perdido de amores, ele se dirigiu pessoalmente aos
domínios do rival:
– Meu nobre amigo – disse o cão apaixonado -, fiz essa
longa e cansativa viagem até o teu reino para pedir a mão da tua irmã em
casamento.
– Com a minha irmã! – respondeu aos gritos o outro cão –,
não quero que você case com ela de jeito nenhum.
Humilhado com a resposta, o cão desdenhado voltou
furioso para sua corte. Assim que chegou, reuniu o Conselho de Guerra e mandou
chamar um fiel servidor para que levasse a seguinte mensagem ao seu inimigo:
– Diga-lhe que como me recusou a mão da irmã, que se
prepare para lutar, pois dentro de poucos dias irei marchar com meu exército
para destruí-lo.
O mensageiro ouviu tudo bem direitinho e já ia
partindo quando um dos conselheiros reais o chamou:
– Você não pode sair assim todo sujo – disse o conselheiro
real. – A sua cara e a cauda estão imundas.
Os criados deram um longo banho no mensageiro e
perfumaram a cauda dele com os melhores perfumes do reino, pois de acordo com
os costumes daquele tempo, um mensageiro tinha que se preparar adequadamente
para executar uma tarefa.
No caminho, o mensageiro achou-se tão cheiroso e
galante que começou a procurar esposas para ele mesmo, deixando de lado a
missão que o chefe havia lhe confiado.
É por isso que os cães andam sempre atrás uns dos
outros, cheirando as suas caudas, para verem se acham o mensageiro
perdido.
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