Dia desses estava eu em uma fila bancária a fim de obter informações
sobre meu cartão. Fui informada a digitar nova senha e também que, a
partir de então, além da senha numérica de quatro dígitos mais as três
letras – senha alfa numérica – eu receberia um complemento de senha que
seria impresso no momento em que inserisse meu cartão.
Dito e feito. Após a senha alfa numérica, eis que surge um papelzinho
amarelo com três sílabas, “si pá” formando uma palavra em hebraico ou
sânscrito. Tentei decifrar qual idioma seria, porém não dava tempo, pois
o tempo pra digitar as tais sílabas era limitado e eu perderia o
processo tendo que começar tudo de novo.
Nesse momento estávamos eu e meu filho, estudante universitário, e,
preciso confessar que em dois, não dávamos conta de caçar as tais
sílabas pra digitar na correria que o tempo exige, pois ao digitar uma,
as outras saltavam dos lugares onde estavam e tínhamos que procurá-las
rapidamente em outro lugar – obviamente misturadas com outras, para
confundir, pois fazem parte de um sistema de senha. Seria ‘silábico’?
Sim, é silábico. Então o sistema de senha tornou-se ‘alfa numérico silábico’.
Considerando que nem todos os usuários de cartões eletrônicos bancários
são alfabetizados, gostaria de entender de onde surgiu essa idéia, que
até pode ser bem intencionada, mas não levou em consideração as
limitações dos usuários, nem os transtornos que poderiam causar. Ou
seja, eu, professora de Português, conhecedora de sílabas e meu filho
alfabetizado encontramos dificuldades no momento de digitar. Porque são
sílabas. Em se tratando de alfabetização, letra e sílaba fazem parte de
contextos diferentes, momentos diferentes. Sílaba é assunto mais
complexo que letras. Conhecer letras é conhecer o código – os sinais
lingüísticos, o alfabeto. Entender as sílabas é dominar o código para
poder usá-lo na formação de palavras.
Portanto, a pessoa não alfabetizada verá nessa nova senha a junção de
duas letras e não uma sílaba, o que dificulta ainda mais a leitura e a
procura das mesmas.
Gostaria de pedir que, ao invés de complicarem o sistema de senha
bancária para evitar sacanagens com nossa conta – roubo de senha através
de chupa cabra ou sei lá o que mais que chupa - que a segurança nesse
sentido seja pensada de outra forma, porque daqui a pouco, nem a gente
enfiando a cabeça dentro da máquina pra ser fotografado pra garantir que
fomos nós que sacamos nosso dinheiro, vai adiantar.
Esse Xa Xe Xi Xo Xu, Za Ze Zi Zo Zu, Ka Ke Ki Ko Ku não vai dar certo, porque chupa a nossa paciência.
COLABORAÇÃO
Cristina Pellisson
Mestre em Educação
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