Fernão olhou de
soslaio. Lia muito, mas nunca pensara em escrever livros. Poesia nunca fez.
Aventuravafazer rimas. Aborrecia-se com os colegas que zombavam de
seu nome: “Fernão Capelo tem pena de gaivota no cabelo.” As afrontas, embora
ingênuas, feriam sua autoestima, mas, apesar dessas lembranças, sentia saudade
dos tempos de colégio no Joaquim Nabuco. A galhofa que lhe faziam do
nome, deixou marcas que permaneceram na vida adulta. Ele só se apresenta
como Fernão ou como Noronha. Nunca Fernão de Noronha nem Noronha Capelo,
para evitar associação ao pássaro de Bach. Perdera, no entanto, o apelido
quando voltou com quinze anos para o Rio de Janeiro.
Inquieto, Fernão
acionou o serviço de bordo. A comissária aproximou-se:
— Pois não, deseja
alguma coisa, senhor?
— Estamos voando
baixo, disse ele.
— O Senhor está
enganado! Estamos em nível de cruzeiro, a trinta e seis mil pés.
— Vejo o azul muito
próximo.
— Sim, o céu é
lindo porque é azul da cor do mar. Fique tranquilo, o comandante Hemor é muito
experiente. Qualquer dúvida pode chamar-me novamente.
Aproveitando o
clarão do relâmpago, Fernão olhou através da janela, captou a imagem de fora e
reconstruiu a frase da aeromoça: “O céu é lindo porque é azul.” Refez várias
vezes... “O céu é lindo porque é azul da cor do mar”.
— É isso, o mar é
azul da cor do céu. Vejo o mar debaixo de meus pés.
Um comentário:
Bom me ver publicado aqui.
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