Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
LERTRAZPRAZER
O MUNDO SE TORNA PEQUENO QUANDO NOS DISPOMOS A VOAR PELAS PÁGINAS DE UM LIVRO
VOCÊ GOSTA DE LER?
Devemos observar várias formas de arte, expressas em textos escritos ou não (verbal ou não verbal) e, delas tirar lições, reflexões, ou mesmo divesão. O que não podemos é sairmos indiferentes, pensando: não entendi nada! Ou fingindo ter entendido tudo, sem no entanto, ter compreendido o que o emissor realmente disse.
Muitas mensagens, realmente são de entendimento dúbio, ou seja, dá margens a mais de uma interpretação.
O que não se deve, é não entender nada! Se por acaso isso acontercer, e não é nada depreciativo assumir isso, devemos buscar mais informações e, fazer com que de alguma forma, essa leitura acrescente algo de positivo em nossa vida.
Leia, vá ao cinema, museus, shows, teatros, ouça músicas, mas reflita, pense!
Se não tiver argumentos bem fundamentados, cale-se e vá aprender mais.
"NÃO TENHO UM NOVO CAMINHO. O QUE TENHO É UM NOVO JEITO DE CAMINHAR." (Thiago de Melo)
terça-feira, 7 de maio de 2024
POEMINHO DO CONTRA (Mário Quintana)
sexta-feira, 3 de maio de 2024
MESMO FORA DA LONA (Marina Colasanti)
O abrir a mala daquele viajante, tudo podia esperar o funcionário da alfândega, menos a visão macabra do corpo esquartejado. Equívoco logo desfeito, tranquilizou-se o agente da lei ao identificar o viajante como Mr. Chu, célebre mágico que na mala levava a sua assistente.
segunda-feira, 29 de abril de 2024
FECUNDAÇÃO POÉTICA (Clovis C. Rocha)
Com a língua
Contar estrelas
no céu da tua boca...
Uma a uma conhecê-las.
Fecundar tuas entranhas
com meus pensamentos.
Fazer cócegas na tua imaginação,
cuspir tensão na sua passividade,
tirar teu sossego,
fazê-la...
Parir fantasias!
Arrancar palavras do dicionário
da tua memória,
assim...
Como quem arranca do próprio útero
um espectro embrionário.
Avançar e retroceder,
fazer e desfazer
até que da experiência vivida
surja aquilo que você,
tenha certeza que deve ser chamado de
POESIA.
terça-feira, 23 de abril de 2024
PHENIX ( Clovis C. Rocha)
Resta apenas um sopro de vida
Eis que renasce do nada.
Bastou apenas um olhar
Cruzado ao acaso, inexpressivo, vazio
Acordou, causou arrepio
Deixou no ar um mistério.
Será que é isso que quero?
Tentar novo recomeço?
Virar a vida ao avesso?
Renascer para morrer mais tarde?
Viver por apenas um dia!?
Mostrar que por baixo da cinza ainda arde
Coração que já não mais batia?
Uma alma que se levanta do nada
Cambaleia, voa ou permanece deitada!?
Desfruta da vida em busca um amor,
Ou se abre e expõe suas feridas,
E deixa que a peguem pela mão,
Arrastem-na, levantem-na ou atirem ao chão,
Assim como as folhas se vão,
Levadas pelo vento a vagar?
Acho que vou fechar os olhos
Dormir, contemplando o luar
Viver sonhando meus sonhos
Ou morrer e não mais acordadar.
quinta-feira, 18 de abril de 2024
POEMA DA HORA ( Clovis C. Rocha)
Sabe, gosto de você pra caramba
Até pensei em te fazer um poema da horaTipo falando dos meus grilos
Na moral!
Te curto de montão!
Cara, não da pra falar o tantão.
Sacô?
Eu queria fazer um poema maneiro
Com rimas no final dos versos
Esses baratos.
O prof até falou desses lances
Ele mandou bem
Mas não me liguei na dele
Sabe como é, meu lance é números
Ah! Saquei geral!
Te curto 24h por dia
100% do meu tempo
Até quando minha cabeça está
A 200° de fervura
Pensando melhor, as minas
Se amarram mesmo é na pegada,
Diretaça! Então la vai!
Vou descolar ¼ maneiro, torrar 80%
Da minha grana
O resto, 10%
Vou comprar preservativo
Caramba! Errei nos números também!
Não! Com os outros 10% vou comprar
Flores para enfeitar
Nosso ninho de amor.
Topas?
quarta-feira, 13 de março de 2024
RETRATO EM BRANCO E PRETO (Antonio Carlos Jobim)
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Vou ficar tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
terça-feira, 11 de outubro de 2022
O DIA EM QUE O RIO DE JANEIRO DERRETEU (Carlos Eduardo Novaes)
Aparentemente aquele dia amanheceu igual a todos os outros do mês de janeiro. Céu azul, lavado, um sol forte e musculoso ainda se espreguiçando, uma promessa de calor. Manhã sob medida para turistas, estudantes em férias e desempregados. O Rio, quando quer, sabe como nenhuma outra cidade se enfeitar para o verão. D. Odete Araújo abriu a janela de sua casinha em Bangu e girou a cabeça como se tentando perscrutar o tempo. Viu um cidadão parado na calçada segurando um cigarro. A fumaça do cigarro subia em linha reta, parecia traçada a régua. Não havia a mais leve brisa no ar. D. Odete respirou fundo, passou as costas da mão na testa gotejante e comentou com a vizinha:
—
Acho que hoje chegaremos aos 45 graus.
Os
moradores de Bangu entendem mais do que todos de altas temperaturas. A vizinha
deu de ombros. Um grau a mais ou a menos não faz diferença neste inferno
suburbano. Na véspera, os termômetros de Bangu acusaram 44.8 graus, quebrando
os recordes dos anos de 84, 85, 86 e 87. D. Odete comentou num tom cabalístico
que aquele era o 13º dia consecutivo que o Rio se debatia com uma febre de 40
graus.
No
Centro da cidade, um movimento típico das manhãs de verão. As pessoas
procurando as sombras, procurando os bares, procurando diminuir o ritmo. Nada
de anormal. O contínuo Ademar Ferreira, porém, percebeu o termômetro digital,
que uma hora antes acusava 43 graus, agora marcando 48. O amigo, com quem
conversava numa esquina da Avenida Rio Branco, disse que os termômetros estavam
de miolo mole. Ontem vira um marcando 54 graus. Ademar continuou conversando,
tornou a olhar o termômetro: 49 graus. Notou certa inquietação no ar. Os
transeuntes se mexiam mais, tiravam o paletó, afrouxavam a gravata: 50 graus.
Outras pessoas começaram a perceber a escalada dos termômetros. O calor
aumentava: 51 graus. Um grupo preocupado se reuniu em torno de um orelhão e
ligou para o Serviço de Meteorologia. O que está acontecendo? Os cientistas
admitiam que a temperatura subia. vertiginosa, mas desconheciam as razões.
Estavam acompanhando uma frente fria encalhada na Patagônia.
As
pessoas se aglomeravam diante dos termômetros como se acompanhassem o movimento
de apostas no Jóquei: 53 graus. As expressões revelavam medo e tensão. O calor
tornava-se escaldante. Era como se tivessem ligado o forno da Rio Branco: 55
graus. Não dava mais para ficar exposto ao sol. As pessoas procuraram proteção
embaixo das marquises. Muitas, nervosas, se refugiavam em lojas e escritórios
com ar condicionado: 56 graus. Um bando de honrados cidadãos invadiu uma loja de
eletrodomésticos:
—
Liguem os ventiladores, pelo amor de Deus! — Infelizmente vendemos todos —
respondeu o vendedor, torcendo o lenço empapado de suor.
Na
Zona Sul o pânico se alastrava como um rastilho de pólvora. Edevaldo Santos,
vendedor de picolés na praia, notou que algo estranho acontecia quando abriu a
caixa de isopor e viu os palitos boiando num caldo de sorvete: 60 graus. Não
dava mais para atravessar a areia quente. Quem ficou na praia já não podia
sair. Dois helicópteros procuravam transportar os banhistas. Primeiro, velhos e
crianças! A praia, como a cidade, já estava sob o império do caos, apesar das
rádios e televisões pedirem calma à população. A corda que pendia dos
helicópteros era disputada a tapa: 65 graus. Faltava ar, a garganta secava, o
corpo parecia incandescente. A estudante Luísa Coelho lembrou-se de Joana
D’Arc. Teve início a invasão de bares, restaurantes, supermercados. Todos
corriam às prateleiras de bebidas. Água, refrigerantes, cerveja, vinho,
champanhe, qualquer líquido. Tinha gente bebendo Pinho-Sol.
O
trânsito enlouqueceu de vez. Os motoristas abandonavam seus carros nos
congestionamentos. Os ônibus eram largados em qualquer lugar. Os veículos
transformavam-se em fornos crematórios: 74 graus. Os pneus começaram a
derreter. Nas ruas as pessoas iam se desfazendo das roupas. Vários executivos
foram vistos se esgueirando pelos cantos, de cueca, meias e pasta. Começou a
invasão dos apartamentos com ar condicionado. Eles viraram uma espécie de
abrigo nuclear. Só na minha sala havia 67 pessoas se empurrando para botar a
cara na frente do aparelho: 80 graus. De repente ouviu-se um ruído e logo o
silêncio do ar-condicionado. A cidade ficara sem energia. O calor derreteu os
cabos da Light. O sol esquentava os vidros e o concreto dos prédios. Era
insuportável o calor nos apartamentos. A população desesperada saiu às ruas à
cata de sombras. Num poste em Madureira havia 23 pessoas espremidas e
perfiladas ao longo de sua tira de sombra: 84 graus!
Os
carros dos Bombeiros circulavam pelas ruas com um restinho de água molhando a
população. “Aqui, aqui! Joga aqui antes que eu pegue fogo!” Os chafarizes da
cidade. estavam mais cheios do que trem da Central. Milhares de. pessoas
mergulhavam na Lagoa Rodrigo dA Freitas. Só que esta, como as outras lagoas da
cidade, secava rapidamente. As poucas matas pegavam fogo. As ruas de terra
rachavam ao melhor estilo nordestino. O asfalto começou a borbulhar. Ploft! A
cidade se transformava num caldeirão: 88 graus. No cais do porto os marinheiros
se atiravam do convés como se os navios estivessem naufragando. No Santos
Dumont um avião da Ponte-Aérea, ao invés de levantar vôo, embicou dentro
d’água. O piloto foi aplaudidíssimo pelos passageiros.
A
temperatura estava em torno dos 94 graus. No Sumaré as antenas das emissoras de
televisão adernavam, desmaiando lentamente. O Pão de Açúcar começou a derreter
como um sorvete de casquinha. Uma mancha escura se espalhava pelo mar. No meio,
boiando, o bondinho com turistas americanos fotografando tudo. Outros morros
também derretiam. O Dois Irmãos, para surpresa geral, entrou em erupção. A
estátua de Cristo tinha desaparecido do alto do Corcovado. Dizem que, quando o
morro começou a desmanchar, Ele saiu voando com seus braços abertos. Todo mundo
já estava tendo visões e alucinações. Nas calçadas da Visconde de Pirajá — lado
da sombra — as pessoas se arrastavam aos gritos de “água, água”. Eram inúmeras
as miragens. O pipoqueiro Manuel de Souza jura que viu as Sete Quedas na Praça
Nossa Senhora da Paz.
As
17h12min, por fim, o sol começou a perder a força. As pessoas, ainda
desconfiadas, foram saindo de dentro das geladeiras, freezers, frigoríficos.
Nas câmaras frigoríficas da Cibrazem — contou-se … — havia 12 mil 344 pessoas.
Uma sensação de forno quente pairava sobre o Rio. Somente à meia-noite os
termômetros voltaram ao normal: 40 graus. Terminara o efeito-estufa, deixando
um rastro de dor e destruição. Não havia uma única gota d’água na cidade. Fomos
dormir e no Day After, como não havia trabalho, saímos todos para a praia. Pois
creiam: no meio do comércio de sanduíches naturais, chapéus, cocadas, óleo para
bronzear, o diabo, já tinha nego vendendo um aparelhozinho para dessalinizar a
água do mar.